
Ausência de políticas públicas, falta de infraestrutura nos serviços públicos e de profissionais capacitados, além da desinformação. Estes são alguns dos obstáculos apontados por especialistas para que ocorra o diagnóstico precoce para pessoas neurodivergentes, principalmente autistas. O assunto fez parte do 2º Seminário de Neurodiversidade: Saúde, Educação e Trabalho, promovido pelo instituto IN Movimento Inclusivo, em parceria com a Universidade e a Prefeitura Municipal de Santos, no último dia 11.
“O diagnóstico nos liberta e nos protege”, disse a psicóloga clínica, coordenadora do método ABA – Análise do Comportamento Aplicada, do Grupo de Avaliação Diagnóstica e Intervenção (GADI), Juliana Fernandes, que participou do painel “Neurodiversidade e Saúde”. Segundo ela, compreender o diagnóstico é essencial para entender o porquê de determinados comportamentos. Também enfatizou que a banalização dos diagnósticos nas redes sociais é uma forma de preconceito.

Para Juliana Fernandes, iniciativas, como o Seminário, ajudam na quebra de estigmas e demonstram a importância e seriedade do assunto. Para além dos eventos, destacou que é preciso assumir um papel ativo, promovendo discussões sobre o autismo em todos os ambientes.
AUMENTO NA DEMANDA – Segundo a neuropsicóloga Ana Maria Fernandes Guimarães, que atua no Hospital Regional de Itanhaém, a falta de estrutura para diagnóstico e acompanhamento especializado tem dificultado o acesso à saúde para pessoas com deficiência em Itanhaém, especialmente para aquelas dentro do espectro autista. “É muito difícil as pessoas com deficiência, principalmente quem está dentro do espectro autista, conseguirem acesso no município a uma avaliação que realmente identifique o transtorno e o nível de suporte necessário”, ressaltou.


Ana Maria observa o aumento na demanda por atendimentos nos últimos anos, especialmente em consultórios particulares, onde também atua. “Muitas vezes, a avaliação acaba sendo feita no particular porque o município não oferece esse serviço”. Ela lamenta que os altos custos, tanto dos testes quanto da estrutura necessária, dificultem a ampliação desse tipo de atendimento na rede pública. “O município teria que investir em instrumentos, protocolos e profissionais capacitados. Uma avaliação neuropsicológica pode usar até seis testes diferentes, cada um com seu custo”, explicou.
LEGISLAÇÃO – “A legislação existe e é clara ao garantir o acesso à saúde e à educação inclusiva. O problema é que o poder público não cumpre essas obrigações de forma espontânea. Só quando há provocação judicial é que os direitos começam a ser respeitados”, afirmou o advogado Cahuê Talarico, que também é pai de duas crianças neurodivergentes.
Ele disse que o diagnóstico do filho com autismo foi o principal fator que o motivou a aprofundar seus conhecimentos na área e a atuar diretamente na defesa dos direitos de pessoas com deficiência. “Foram meses de incerteza e desinformação. Consultamos vários profissionais até chegar a um diagnóstico preciso. A pediatra e o otorrino não tinham preparo para identificar os sinais do espectro autista. Só uma neurologista, depois de observar o comportamento do meu filho, nos deu uma resposta clara”, recorda.