
A UNISANTOS é a primeira instituição de educação superior de Santos a receber a placa de certificação de ‘Empresa Acessível para pessoas com deficiência’, da Prefeitura Municipal de Santos. A entrega ocorreu, no último dia 11, durante o 2º Seminário de Neurodiversidade: Saúde, Educação e Trabalho, promovido pelo instituto IN Movimento Inclusivo, em parceria com a Universidade e a Prefeitura Municipal de Santos.
A placa foi entregue pela secretária municipal da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos, Nina Barbosa, e pela coordenadora de Defesa de Políticas para Pessoas com Deficiência, Cristiane Zamari, ao reitor, professor mestre Marcos Medina Leite. A certificação contém estrelas que representam as deficiências visual, auditiva, física e intelectual, além do símbolo do autismo para agregar outras. Também contém a escrita em braille e o boneco – símbolo universal da acessibilidade.

“A UNISANTOS está no caminho certo. Para que uma empresa ou instituição consiga este selo, é feito todo um protocolo, é seguido um trâmite. Verifica-se o espaço físico e comportamental. Toda essa lição foi feita para certificação e depois fazemos o acompanhamento”, disse a secretária Nina Barbosa. A coordenadora Cristiane Zamari destacou que a Universidade é a primeira instituição de educação superior a ter esse reconhecimento, por conta de todo o trabalho que vem realizando na inclusão de diferentes deficiências.
PODER PÚBLICO – Vereadoras de Santos, Cláudia Alonso (PODE) e Renata Bravo (PSD) participaram do evento e destacaram que as parcerias são o caminho na luta pela inclusão de todos. Elas ressaltaram a importância de o seminário ser realizado na UNISANTOS, por conta da importância da instituição e de todo trabalho que vem sendo realizado ao longo dos anos, por meio de projetos e ações inclusivas.

“Um encontro como este, dentro de uma universidade como a UNISANTOS, no alcance que tem, é fundamental e provoca a gente para esse movimento. É muito importante a gente se entender como uma sociedade que é corresponsável, que é coparticipante e que precisa fazer acontecer”, disse Cláudia Alonso, que tem uma trajetória de vida dedicada ao voluntariado e à inclusão. Ela está há 33 anos à frente da ONG TamTam, ao lado do pedagogo Renato Di Renzo.

Informação e conhecimento foram as palavras utilizadas pela vereadora Renata Bravo, para destacar a contribuição do seminário, primeiramente, no combate ao preconceito. “Para fazer a inclusão é preciso quebrar o preconceito. Com o avanço desse seminário, eu não tenho a menor dúvida de que essa pauta avança. Hoje, na Câmara Municipal, junto com a OAB, nós estamos falando de ‘Linguagem Simples’, que é mais um instrumento para dar acesso a todas as pessoas. Há muito trabalho a fazer”, disse a legisladora que já foi vice-prefeita da Cidade e sempre atuou na defesa dos direitos humanos e inclusão. “As políticas públicas têm avançado e a luta continua na Câmara Municipal. A gente vai trabalhar cada vez mais pela inclusão de todos”, finalizou.

Lei 17.759/2023 – Vice-presidente e cofundador da Associação Autista Brasil, o estudante de Medicina, Arthur Ataíde Ferreira Garcia, participou do evento. Ele é idealizador do Protocolo Individualizado de Avaliação (PIA), que se tornou lei estadual, por meio de projeto da deputada estadual Solange Freitas, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). “Idealizei, redigi o texto desse protocolo e trabalhei com a deputada Solange Freitas, para garantir que essa lei fosse sancionada. Hoje, em todo Estado de São Paulo, estudantes autistas ou com qualquer outro transtorno do desenvolvimento têm o direito de definir a forma como as suas avaliações são feitas, desde a educação básica até o ensino superior, garantindo permanência e dignidade”, ressaltou.
TRAJETÓRIA – Arthur Garcia disse que recebe diariamente mensagens de dezenas de estudantes autistas, neurodivergentes, contando que agora conseguem se sentir à vontade em qualquer instituição de ensino e podem expressar o conhecimento em avaliações condizentes com a sua realidade. “Senti na pele isso. Durante toda a minha infância eu tive que lutar muito pelo básico, pelo mínimo, para fazer prova com tempo adicional, para substituir provas por trabalhos, trocar avaliações dissertativas por provas orais, e tudo isso ficava de acordo com a boa vontade do professor. A gente não pode depender que direito venha a partir de boa vontade”, explicou.
Ativista sobre neurodiversidade, Arthur ressaltou que o Seminário de Neurodiversidade promove a aceitação plena da deficiência, de todas as condições que fazem parte da diversidade humana e que podem se manifestar enquanto deficiência dentro do modelo biopsicossocial. “O papel da inclusão não é só de quem passa essa realidade, não só da família que tem uma pessoa com deficiência. É de todos. A gente só cria uma sociedade melhor quando todos entendem que têm papel na inclusão”, destacou.

SAÚDE MENTAL – Arte-educador e pedagogo, Renato Di Renzo, idealizador do Projeto TamTam, que revolucionou a saúde mental em Santos, ganhando, inclusive, visibilidade internacional, também participou do evento e disse que discutir as questões relacionadas à inclusão no ambiente universitário é muito importante para a formação. Destacou que a temática deve ser pauta constante nas salas de aula, corredores e biblioteca. “Acho que o que fica de mais importante [sobre o seminário] é trazer pessoas que possam ser multiplicadoras, que possam virar agentes transformadores de uma sociedade.”
As recentes agressões, retratadas pela mídia, contra crianças com algum tipo de deficiência, inclusive no ambiente escolar, também preocupam o pedagogo que desenvolveu o TamTam com o objetivo de promover a saúde mental, por meio da arte e da cultura. “Isso é um retrato dos tempos atuais, onde crianças e jovens querem pular etapas, deixando de serem crianças. São nesses momentos que a violência é disseminada. Isso é algo que a gente, em vários momentos, deve estar debatendo, estar recriando a verdadeira escola, a escola da vida, a escola da paz”, completou.

DANÇA – Um dos exemplos das ações do TamTam pode ser conferido no intervalo entre os painéis do seminário: a apresentação do grupo de dança. Ela reuniu pessoas com deficiência auditiva, PCDs, com Síndrome de Down e Transtorno de Ansiedade. O tema foi “vem dançar comigo”, justamente um convite para que todos participassem e se misturassem às diferenças.

SEMINÁRIO – Com o objetivo de promover discussões e ações voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência, em especial aquela do espectro do autismo, o 2º Seminário de Neurodiversidade: Saúde, Educação e Trabalho reuniu mais de 200 pessoas, entre representantes do poder público, empresas, organizações sociais e educacionais, estudantes e docentes. Foram mais de oito horas de atividades que incluíram painéis temáticos, exposições e apresentação artística.
Participaram da abertura do evento, as vereadores de Santos, Renata Bravo e Cláudia Alonso; o reitor da UNISANTOS, professor mestre Marcos Medina Leite; o instrutor do IN Movimento, advogado César Eduardo Lavoura Romão; o superintendente de Governança, Riscos e Compliance na Autoridade Portuária de Santos – APS – e cofundador do Manifesto ESG do Porto de Santos, Cláudio Bastos; a coordenadora de Defesa de Políticas para Pessoas com Deficiência, Cristiane Zamari, e a representante do Conselho Regional de Psicologia no Condefi – Conselho dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Santos, Jenifer Farias de Souza.

AVALIAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL – Importante ferramenta na busca de um diagnóstico e, consequentemente, na garantia de acesso a direitos fundamentais, a Avaliação Biopsicossocial foi o tema do primeiro painel. Com a participação de diferentes profissionais, o assunto foi discutido a partir de desafios como a subjetividade e, por vezes, a falta de critérios objetivos. Essa avaliação foi destacada como fundamental para o acesso a bens e serviços, como saúde e educação, além da inserção no mercado de trabalho.
Fizeram parte da mesa a fonoaudióloga do Centro de Atenção Infantil Região Central e Morros, Naira Rodrigues Gaspar; a chefe do Serviço de Representação Técnica do Serviço Social do Instituto Nacional de Seguridade Social, Marcela Cristina Chaddad; a chefe do Serviço de Representação Técnica da Reabilitação Profissional do Instituto Nacional de Seguridade Social, Karliane Vaz Damasceno dos Santos; a docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Desenvolvimento e Políticas Públicas da UNISANTOS, Hilda Rosa Capelão Avoglia; e o vice-presidente da Associação Autista Brasil, o estudante de Medicina, Arthur Ataíde. O mediador foi o membro da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/Santos e do Comitê Jurídico da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), Marcus Maurer Salles.

SAÚDE – O método ABA – Análise do Comportamento Aplicada – e sua importância no tratamento de pessoas com autismo, foi o foco da discussão no painel “Neurodiversidade e Saúde”. Feito por equipe multidisciplinar, ele ajuda a ensinar habilidades sociais, comunicativas, emocionais e de atenção, melhorando a qualidade de vida e a autonomia de crianças, jovens e adultos.
A relação paciente, família e educação foi destacada como fundamental para um trabalho bem desenvolvido. Também foi explicado que uma avaliação de um paciente que ainda não tem um diagnóstico definido pode durar de oito a dez semanas, demandando um alto custo para compra de equipamentos e manutenção.
Participaram do painel a neuropsicóloga do Hospital Regional Rossmann, de Itanhaém, Ana Maria Fernandes Guimarães, e a psicóloga do GADI – Avaliação Diagnóstica & Intervenção, Juliana Fernandes. A mediação ficou com o advogado e coordenador do Comitê Jurídico da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), Cahuê Talarico.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA – Os desafios na área educacional fizeram parte da discussão durante o painel “Neurodiversidade e Educação Inclusiva”, que reuniu coordenadores de escola, de associações e entidades. Eles consideraram que muitas escolas garantem o acesso, mas não promovem a inclusão. Neste sentido, muitos educadores não são preparados para trabalhar com alunos especiais, assim como funcionários e os próprios colegas de sala. Outra questão que precisa ser trabalhada, além de uma política de inclusão, é a necessidade de mostrar que todos são iguais, independente das limitações, e que a sociedade é que precisa se adequar aos neurodivergentes.
Fizeram parte desse painel a coordenadora pedagógica da ETEC Escolástica Rosa, Claudia Januário; o diretor da ETEC Escolástica Rosa, Thiago Pedro de Abreu; a coordenadora do Programa de Inclusão 360 do SENAI, Tânia Santiago; o coordenador de atividades técnicas do SENAI, o professor doutor Fabrício Ramos da Fonseca; a psicopedagoga do Colégio Stella Maris, Miriam de Caldas Andrade; a docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Desenvolvimento e Políticas Públicas da UNISANTOS, Cristina Varanda; e o fundador da Associação TamTam, Renato Di Renzo. O mediador foi o presidente do IN Movimento Inclusivo, César Lavoura Romão.

INCLUSÃO PROFISSIONAL – Uma das maiores dificuldades de uma pessoa com deficiência é a inserção no mercado de trabalho. Durante o painel “Neurodiversidade e Inclusão Profissional”, foi explicado que, assim como no ambiente escolar, para ocorrer a inclusão nas empresas ainda é necessário sensibilizar em busca de identificar as habilidades de cada indivíduo. Valorização das pessoas, a partir das suas potencialidades, e acolhida são fundamentais para o desenvolvimento profissional.
O painel foi composto pela responsável pela área de Diversidade, Inclusão, Equidade e Pertencimento (DIEP) na Santos Brasil, Bruna Ferreira Lucena; pela coordenadora de treinamento na Specialisterne Brasil, na capacitação e preparo de pessoas autistas para o mercado de trabalho, Juliana Fungaro; pela psicóloga e Head of Human Resources do TEG, TEAG, TES – terminais portuários de transporte, armazenagem e correio, Carla Capociama; pelo funcionário do TEG, TEAG, TES, Felipe da Silva Rodrigues; pelo coordenador das Clínicas de Psicologia da UNISANTOS e do Programa de Desenvolvimento para Inclusão Profissional de Pessoas com TEA (PIP-TEA), professor mestre Wagner José Tedesco. O mediador foi o diretor da Goodbros e cocriador da Oficina Empatia, Rodrigo Credidio.
Durante o painel foi apresentado o curta metragem “Horizontes”, idealizado por dois jovens assistidos pelo PIP-TEA da UNISANTOS, e produzido por docentes da área da Comunicação e alunos do curso de Psicologia da UNISANTOS.