
A inclusão profissional de Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo é um dos grandes desafios atuais da sociedade. A ausência de políticas públicas, as dificuldades para identificação de habilidades e competências e a falta de sensibilização das empresas são alguns dos fatores que contribuem para a não inserção no mercado de trabalho. Mas, algumas iniciativas já estão dando visibilidade para essa questão e aproximando autistas de cursos e treinamentos, além do encaminhamento para postos de trabalho. Essa foi uma das discussões, durante o 2º Seminário de Neurodiversidade: Saúde, Educação e Trabalho, no último dia 11, promovido pelo instituto IN Movimento Inclusivo, em parceria com a Universidade e a Prefeitura Municipal de Santos.
Uma dessas iniciativas foi apresentada pela coordenadora de treinamento na Specialisterne Brasil, na preparação de pessoas autistas para o mercado de trabalho, a psicóloga Juliana Fungaro. A empresa global, fundada na Dinamarca e que tem filiais em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, atua no treinamento de habilidades sociais e técnicas para pessoas autistas, com o objetivo de inclusão profissional.

Juliana Fungaro disse que as empresas também são preparadas para receber os autistas, sendo que o treinamento já ocorreu fora da capital e em estados que não possuem uma unidade da Specialisterne. “Já tivemos pessoas da região que passaram pelo nosso programa e incluímos em empresas em São Paulo”, contou. Hoje, um dos desafios é atender a demanda, que tem aumentado a cada dia. “Temos até lista de espera que chega a um ano”.
AÇÕES – Outro exemplo foi apresentado por Bruna Lucena Ferreira, responsável pela área de Diversidade, Inclusão, Equidade e Pertencimento (DIEP) na Santos Brasil. Iniciado entre 2021 e 2022, o programa da diversidade na empresa surgiu a partir de uma consultoria externa que identificou 74 ações a serem colocadas em prática.

Entre as primeiras medidas, foi criada uma coordenadoria específica para cuidar do tema, reforçando o compromisso da empresa com a pauta. “Foi muito por conta das pessoas que trabalham na Santos Brasil. Temos uma diretoria e uma liderança comprometidas com diversidade”, disse Bruna.
Apesar de não possuir políticas específicas para neurodivergentes, Bruna ressaltou que a empresa está avançando aos poucos. “Estamos caminhando. É um trabalho de formiguinha, mas estamos conseguindo fazer alguma coisa”, relatou. A empresa tem investido em diagnósticos técnicos de acessibilidade, formações para lideranças e adaptações físicas. O foco, segundo ela, é garantir uma experiência de acolhimento real para quem entra. “Não adianta fazer um processo seletivo voltado para pessoas com deficiência se não estamos preparados para recebê-las. Queremos incluir de fato, e não só cumprir uma cota.”

PIP TEA – A UNISANTOS também apresentou a sua iniciativa, o Programa de Desenvolvimento para Inclusão Profissional de Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (PIP TEA), inédito na Baixada Santista. Totalmente gratuito, o objetivo é proporcionar um ambiente de desenvolvimento e aprendizado inclusivo e progressivo para integração efetiva no mercado de trabalho. Com um ano de existência, atualmente ele conta com 20 jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e uma equipe formada por psicólogos, estudantes de Psicologia e pesquisadores.
Coordenado pelo professor mestre Wagner José Tedesco, mestre em Psicologia e especialista em Psicologia Organizacional, o PIP TEA é focado em ações que incluem: avaliação psicológica e neuropsicológica; desenvolvimento de habilidades sociais e profissionais; sensibilização para as organizações; desenvolvimento de oportunidades de trabalho junto às organizações; avaliação de compatibilidade e correlação; plano individual de adaptação profissional; e acompanhamento de engajamento profissional.