Projetos de Pesquisa

ESTUDOS CULTURAIS EM EDUCAÇÃO: SUJEITOS, IDENTIDADES E IDEOLOGIAS

Introdução

Este projeto de pesquisa desenvolve estudos sobre a educação como prática social humanizada e emancipatória, situada em contextos socioculturais de significação e aculturação que precisam ser desvelados criticamente, a fim de que os processos de manipulação e dominação sejam superados.

Para tanto, o projeto estabelece como hipótese de pesquisa que toda criação humana é produto cultural, como define Freire (1980): “a cultura é todo o resultado da atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, de seu trabalho por transformar e estabelecer relações de diálogo com os outros homens” (p. 38).

Isso implica pensar a cultura como a esfera do sentido que unifica a sociedade e as relações humanas, refletindo sobre o campo da educação, no âmbito do que Giroux (1995) aponta como a própria definição dos Estudos Culturais contemporâneos: o “estudo da produção, da recepção e do uso situado de variados textos, e da forma como eles estruturam as relações sociais, os valores e as noções de comunidade, o futuro e as diversas definições do eu” (p. 98).

Objetivos

 Objetivos gerais: analisar e problematizar os mecanismos e políticas que implicam sujeitos e suas identidades, desvelando criticamente a trama ideológica subjacente.

Objetivos específicos a serem atingidos no contexto deste projeto: 1. Fomentar o desenvolvimento deste projeto junto ao Grupo Interdisciplinar de Estudos Culturais, ligado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Católica de Santos. 2. Desenvolver subprojetos correlatos, com a participação de estudantes-pesquisadores de qualquer área. 3. Orientar projetos de Iniciação Científica. 4. Promover a produção de artigos individuais e em coautorias criadas no interior do grupo de pesquisa, para submetê-los a periódicos e congressos da área da Educação.

Referencial teórico

Os Estudos Culturais se constituíram como campo de estudos de caráter interdisciplinar, a partir da criação do Centro de Estudos Culturais, na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, por Stuart Hall e Richard Hoggart, nos anos 1960. Esse centro e outros autores britânicos, dentre os quais Raymond Williams, tornaram-se referências mundiais. Na mesma época, nos Estados Unidos, os EC assumiram grande expressividade, a partir dos movimentos sociais, como o movimento negro e a segunda onda do feminismo.

Desde então, os EC têm ganhado evidência em pesquisas que entrelaçam diferentes abordagens científicas como a economia política, a teoria da comunicação, a Sociologia, a teoria social, a crítica literária, o cinema, a música, a Antropologia Cultural, a Geografia, a Filosofia e a Educação.

Especialmente, na área da Educação, os pesquisadores se voltam para o estudo de fenômenos que se referem a questões de ideologia, racismo, gênero, etnia, diversidade, multiculturalismo.

Nesse sentido, este projeto embasa-se em autores que têm a cultura no cerne de suas pesquisas como Freire (1977, 1979, 1980, 1987, 2001, 2005, 2008, 2014); Candau (2009a, 2009b, 2007), Lerner (2007), Moreira (1999, 2007).

Também fundamentamos nossas pesquisas em autores que estudam o materialismo histórico dialético e a teoria crítica na educação, como Frigotto (2014), Sánchez Gamboa (2014) e Paulo Netto (2011).

De acordo em esses autores, o sujeito e sua identidade se constituem sócio historicamente e, em virtude do Brasil ser um dos países mais diversos do mundo, há a necessidade de se promover amplos diálogos entre as diferentes culturas. Assim, acreditamos na importância do reconhecimento das identidades que compõem nossa matriz cultural, como os negros, os indígenas, as mulheres, dentre outras minorias.

Contudo, mesmo havendo políticas públicas de reconhecimento de identidade, ainda sofremos com o racismo, a extinção dos povos originários, o feminicídio e tantos outros tipos de exclusão e eliminação de sujeitos e de culturas. Nessa direção, a educação surge como o meio para contrabalancear as contradições e minimizar as diferenças socioculturais.

Ademais, de acordo com Chauí (1981), a ideologia possui um caráter multifacetado e pode ser compreendida como “um conjunto lógico, sistemático e coerente, de representações (idéias e valores) e normas ou regras de conduta que indicam aos membros da sociedade o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer” (CHAUÍ, 1981, p. 11). Portanto, compreender os meandros da ideologia dominante implica compreender melhor o papel da educação em nossa sociedade, frente às diferenças culturais, aos sujeitos e às suas identidades.

Metodologia

Assumimos, neste projeto de pesquisa, a abordagem crítico-dialética, cuja origem está na teoria de Karl Marx. O método de Marx possibilita uma análise concreta que implica conhecer o objeto tal como ele é em si mesmo, na sua existência real e efetiva. (PAULO NETTO, 2011)

O método e o pensamento marxianos têm um espaço importante nas pesquisas educacionais brasileiras, a fim de que se possa apreender a complexidade da realidade dinâmica e em processo acelerado de mudança, compreendendo categorias como práxis educativa, trabalho docente, sociedade neoliberal, formação docente, bem como as contradições da relação sujeito X identidade X cultura X ideologia.

Por certo, as categorias das pesquisas em educação são de ordem ontológica, assim como as categorias marxianas, evidenciando a educação como prática social historicamente construída por humanos e para humanos.

Na área da Educação, a teoria de Marx tem sua representatividade nas ideias de Paulo Freire. A pedagogia crítica freiriana tem exercido grande influência sobre a forma de pensar e pesquisar a educação no Brasil e na América Latina, reverberando para outros países. Por conseguinte, os princípios freirianos, que têm por esteio a cultura, embasarão nossas pesquisas.

Nossos estudos serão de cunho qualitativo, adotando metodologias e estratégias de pesquisa, conforme o recorte da temática que faremos a cada novo trabalho.

Cronograma

 

Atividade	ANO 2022 Período
Estudos Introdutórios	Março/abril
Elaboração de subprojetos para iniciação científica	Maio
Reuniões semanais com o grupo de pesquisa	Durante todo o ano letivo
Produção de artigos para revistas e congressos de educação	De maio em diante
Orientação de IC	Durante todo o ano letivo
Prestação de contas do projeto	Dezembro

 

Referências principais

CANDAU, V. M. Multiculturalismo, Direitos Humanos e Educação: a tensão entre igualdade e diferença. GECEC. Departamento de Educação, PUC-Rio/CNPq. 2009a. (relatório final da pesquisa)

CANDAU, V. M. Educação Escolar e Cultura(s): multiculturalismo, universalismo e currículo; In: CANDAU. V. M. (org). Didática: questões contemporâneas. Rio de Janeiro: Ed. Forma & Ação, 2009b.

CANDAU, V. M. Ressignificando a Didática na perspectiva intercultural. GECEC. Departamento de Educação, PUC-Rio/CNPq. (relatório final da pesquisa), 2007.

CANDAU, V. M. e LEITE, M. S. A Didática multi/intercultural em ação: construindo uma proposta. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), v.37, n.132, 2007.

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1981.

FREIRE, P. Terceiro mundo e ideologia: carta a um jovem teólogo. In: TORRES, C. A. (org.). Consciência e história: a prática educativa de Paulo Freire. São Paulo: Cortex & Moraes, 1979.

FREIRE, Paulo. Conscientização. 3.ed. São Paulo: Morais, 1980.

_______. A mensagem de Paulo Freire: teoria e prática da libertação. Textos selecionados pelo INODEP, Porto: Nova Crítica, 1977.

_______. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1987.

_______. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’Água, 1997.

_______. Política e educação: ensaios. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

_______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31. ed. São Paulo, SP: Autores Associados, 2005. (Coleção Polêmicas do nosso Tempo)

_______. Educação como prática da liberdade. 31. ed. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2008.

_______. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

FRIGOTTO, G. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional. In: FAZENDA, I. (Org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. 12. Ed. 2. Impr. São Paulo: Cortez, 2014.

GIROUX, Henry A. Praticando estudos culturais nas faculdades de educação. In: SILVA, Tomaz T. da (org.) Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

LERNER, D. Ensenãr en la Diversidad. Conferencia dictada en las Primeras Jornadas de Educación Intercultural de la Provincia de Buenos Aires: Género, generaciones y etnicidades en los mapas escolares contemporáneos. Dirección de Modalidad de Educación Intercultural. La Plata, 28 de junio de 2007. Texto publicado en Lectura y Vida. Revista Latinoamericana de Lectura. Buenos Aires, v.26, n.4, dez, 2007.

MOREIRA, A. F. Conhecimento Escolar: questões de seleção, de relações e de fronteiras: debatendo com Michael Young. Texto apresentado em seminário realizado no Departamento de Educação da PUCRio.

MOREIRA, A. F. (1999). A crise da teoria curricular crítica. In: COSTA, M. V. (org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 2007.

PAULO NETTO, J. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

SÁNCHEZ-GAMBOA, S. A. A dialética na pesquisa em educação: elementos de contexto. In: FAZENDA, I. (Org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. 12. ed. 2. impr. São Paulo: Cortez, 2014.