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Histórias & Estórias
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LEMBRANÇAS DE UM CARNAVAL. DONA ILKA LOPES PERINE
Maristela Silvino
 
D. Ilka1 é uma senhora muito ativa para os seus 83 anos. Fala bastante, gosta de organizar excursões e de contar histórias. Ela perdeu o marido ainda moça, mas um de seus assuntos preferidos é falar sobre ele, principalmente neste tempo de Rei Momo. Adora relembrar os desfiles carnavalescos de Santos, famosos, naquela época, por seus Blocos e Escolas de Samba, e os bailes de salão de que participavam. E vai falando...




Fotografia da Década de 1950.
Ela e seu marido são os últimos à direita.
Arquivo pessoal de Dona Ilka.




“O baile do Santos era maravilhoso. Tinha tudo: confete, serpentina... maior alegria! Antes de ir para o baile nós tirávamos foto na 'Oriental'2 , na Praça José Bonifácio. Todo grupo que organizava as fantasias iguais, fazia isso. Uma cunhada minha, a Tercília, fazia a fantasia. Ela gostava muito de moda e bolava os modelos. Cada ano era de uma cor. Ela escolhia as cores. Se nas roupas das moças tivessem flores verdes, as camisas dos rapazes teriam que ser dessa cor. Tudo era exatamente igual, rigorosamente igual, até os cintos tinham que ser iguais . Ela fazia o seu vestido primeiro e depois mostrava para todo mundo. Às vezes comprava a peça inteira do pano. Era bem organizado. Muitas vezes recebemos elogios.




Fotografia da década de 1950.
Dona Ilka e seu marido, o segundo casal da direita para à esquerda.
Arquivo pessoal de Dona Ilka.




O meu marido fazia parte dos 'Chineses do Mercado'. Era um bloco formado por pessoas ali da bacia do mercado e das suas redondezas, como a rua Dr. Cochrane e aquelas vilas, a Vieira de Souza, a Vila Cerquinho...

O grupo saía dali e se apresentava no Gonzaga, aliás, em qualquer lugar que tivesse desfile eles iam. A origem do nome eu não sei dizer, mas sei que o bloco era formado somente por homens. Todos se vestiam de chineses, com pintura e tudo, e o carro alegórico era um verdadeiro pagode chinês. Teve um ano, nós estávamos no baile carnavalesco do Santos Futebol Clube , quando, lá pelas duas horas da manhã, chegou alguém gritando que os chineses eram os vencedores do carnaval. Então foi uma festa... até a orquestra tocou em homenagem a eles.





Fotografia da Década de 1950.
Dona Ilka não aparece nessa imagem pois estava grávida na época.
Arquivo pessoal de Dona Ilka.




Meu marido morreu em 1960 e, no carnaval do ano seguinte, 1961, o bloco saiu, veio até onde eu morava, ali na Praça Iguatemi Martins com Dr. Cóchrane, em um pequeno prédio que ainda tem lá. Pararam e ficou só tocando aquele surdo, bum...bum... Eu e meus filhos fomos até a varanda que tinha no apartamento. Vimos que eles estavam todos com uma tarja preta no braço. Fizeram um minuto de silêncio, depois foram embora e somente após uma meia quadra é que seguiram tocando normalmente."

A idosa senhora se emociona. Logo se recupera e sorri: “Velhos e queridos tempos esses, minha filha...”




Fotografia da década de 1950.
Dona Ilka e seu marido: casal central.
Arquivo pessoal de Dona Ilka.
 
1 Ilka Lopes Perine, santista, ex-comerciante de frutas e legumes do Mercado Municipal de Santos.

2Em muitas fotos antigas encontramos, no verso, um carimbo com os seguintes dizeres: “Photo Oriental Arte e Perfeição Praça José Bonifácio, 27 Tel.: 4697 Santos"