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Atlântico Hotel: memória e o direito ao passado
Jany Rabello
novembro/2004
 
O Atlântico Hotel está localizado na Avenida Presidente Wilson, nº 1, esquina com a Avenida Ana Costa, em frente à famosa praia do Gonzaga, local que marcou o início do turismo em Santos, por ser o ponto final do meio de transporte da época, o Bonde.

Era no Bairro do Gonzaga que se concentravam diversos hotéis com imponentes arquiteturas, como a do Parque Balneário, construídos para atender uma clientela sofisticada, na maioria “Barões do Café”, que desfrutava das atividades de lazer oferecidas, como orquestras, cassinos, bailes e restaurantes para todos os gostos e com muito luxo.

No fim de um dia proveitoso, a fina flor da economia cafeeira – corretores, exportadores, financista – gastavam seus lucros nos elegantes hotéis da barra: Palace Hotel, Avenida Palace, Atlântico e o maior e mais luxuoso de todos,o Parque Balneário.1

Em virtude da crise cafeeira, proibição dos jogos de cassinos e a conseqüente verticalização da orla, por volta dos anos 50 e 60, a maioria dos palacetes foram demolidos, cedendo seus espaços para os edifícios de apartamentos.

Os hotéis por sua vez, sem os hóspedes economicamente abastados, vão sendo fechados e demolidos e a falta de conscientização dos proprietários, aliada à pressão da especulação imobiliária, foram fatores responsáveis pela destruição desses bens patrimoniais arquitetônicos, considerados como inadequados para o processo de modernização, desaparecendo aos poucos da orla santista.

As edificações que restaram servem de testemunhos do passado da cidade, memórias, em concreto, de etapas ultrapassadas. “O passado não é fardo, é herança. Dependendo de nós, o passado é para sempre.”2

Atualmente encontramos poucos registros arquitetônicos históricos no bairro do Gonzaga, da fase áurea dos grandes hotéis. Apenas o Atlântico Hotel e o Avenida Palace permanecem, aumentando a razão para serem preservados.

O pedido do tombamento do Atlântico foi um passo para o povo de Santos, da tão esperada realização efetiva da preservação do edifício. Irá contemplar a beleza do patrimônio que marcou uma época de glória da Baixada Santista.

O Processo de Tombamento do Atlântico Hotel
O Atlântico Hotel foi inaugurado em 23 de setembro de 1923. O prédio , considerado um dos mais antigos da cidade na região da orla, ainda preserva a arquitetura em estilo eclético. Isso é um diferencial entre os demais e comparando-o com os edifícios de hoje, chama a atenção dos turistas que passam pelo local, o que é motivo de orgulho para os santistas.

“É um dos Hotéis remanescentes da década de 20, visto que, no início do século 19, foi um dos hotéis que funcionou como cassino”, justifica o Secretário Municipal de Turismo Eduardo Conde Bandeira, que fez o pedido para o tombamento do Atlântico Hotel ao Conselho de Defesa do Patrimônio Arquitetônico de Santos - Condepasa. ATENÇÃO: ACHO QUE NA FRASE DO BANDEIRA ESTAVA FALTANDO UM COMO, ANTES DE CASSINO, POR ISSO, COLOQUEI.

Condepasa é um órgão municipal autônomo e deliberativo, que cuida do tombamento e da preservação dos bens culturais e naturais situados em Santos, formado por conselheiros representantes de várias instituições privadas e órgãos da Prefeitura ligados à área cultural. Seus membros não são remunerados e o conselho conta com o Órgão Técnico de Apoio (OTA), constituído por profissionais das áreas de Arquitetura e História, responsáveis pela identificação, supervisão, pesquisa e catalogação dos bens culturais.3

O Atlântico Hotel além de ser um bem cultural arquitetônico, continua desenvolvendo a mesma função desde a sua inauguração. Conseguiu, ao longo dos anos, permanecer em um mercado cada vez mais competitivo, oferecendo serviços menos luxuosos se comparados ao passado, mas com uma ocupação freqüente, o que garante a sua sustentabilidade. A preservação da arquitetura externa definitiva, depende da aprovação do tombamento pelo órgão responsável.

O Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, é um exemplo, no Brasil, de hotel tombado que continua mantendo o requinte de outrora. A arquitetura, adaptada com equipamentos modernos, oferece um diferencial aos hóspedes: um atrativo histórico e um estabelecimento com padrões de qualidade internacional.

Assim como o exemplo carioca, o Atlântico Hotel deveria se utilizar da importância histórica como estratégia de marketing, transformando-a em “status” – uma estrela adicional -, o que poderia atrair uma classe com poder aquisitivo alto, que pagaria por diárias de preços elevados, somente pela “satisfação” de se hospedar entre paredes históricas. Isso lhe proporcionaria investir na preservação da arquitetura, modernização dos equipamentos e qualidade dos seus serviços.

Os incentivos fiscais são um dos fatores que facilitam o investimento na preservação e manutenção do patrimônio. Os proprietários de imóveis tombados na cidade, recebem incentivos fiscais do Município, como a isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e de Imposto sobre Serviços (ISS), na hora de iniciar uma obra naquela edificação. 34

Atualmente o Atlântico Hotel encontra-se deteriorado pela ação do tempo, embora em funcionamento. Em algumas partes, entre elas a externa, e outras áreas que não estão sendo utilizadas como, por exemplo, a antiga danceteria, na parte térrea, é visível o abandono. Com a aprovação do tombamento do imóvel, os proprietários terão motivos e incentivos fiscais para investir na restauração e revitalização desse patrimônio que marca o processo de urbanização da orla de Santos.

Bibliografia:

Pimenta, M Aurelius Caminhos do Mar: Memórias do Comércio da Baixada Santista, São Paulo: Museu da pessoa,2002.p. 76.

Andrade, Wilma Therezinha Fernandes de. Presença da Engenharia e Arquitetura na Baixada Santista, São Paulo; Nobel, Empresa das Artes, 2001.p.19.

Jornal A Tribuna, Hotel Atlântico - Condepasa Inicia Processo de Tombamento, 14 de setembro de 2004.

Tombamento e Participação Popular - Departamento de Patrimônio Histórico: Prefeitura do Município de São Paulo, Julho 1991,p.8.

Tombamento e Participação Popular - Departamento de Patrimônio Histórico: Prefeitura do Município de São Paulo, Julho 1991,p.10.
 
1 Pimenta, M. Aurelius.Caminhos do Mar: Memórias do Comércio da Baixada Santista, São Paulo: Museu da pessoa,2002.p. 76.
2 Andrade, Wilma Therezinha Fernandes de. Presença da Engenharia e Arquitetura na Baixada Santista, São Paulo; Nobel, Empresa das Artes, 2001.p.19.
3 Jornal A Tribuna, Hotel Atlântico - Condepasa Inicia Processo de Tombamento, 14 de setembro de 2004.
4 Jornal A Tribuna, Hotel Atlântico - Condepasa Inicia Processo de Tombamento, 14 de setembro de 2004.