Preservação dos mangues impacta na qualidade da água e no controle de catástrofes naturais na Baixada Santista
3 de abril 2025
Especialistas afirmam que a degradação ambiental deste ecossistema tem gerado impactos que vão além do meio ambiente. Biólogos defendem a conscientização e a educação ambiental como ferramentas de conscientização
O mangue é uma ferramenta importante contra os alagamentos e inundações na Baixada Santista. O climatologista Rodolfo Bonafim afirma que, no entanto, a degradação ambiental deste ecossistema tem gerado impactos que vão além do meio ambiente. “Se não houver ações rápidas das autoridades e dos órgãos e instituições de controle de defesa do meio ambiente, o mangue será ainda mais comprometido, afetando a qualidade da água e a vida humana”. Isso porque especialistas apontam que os manguezais funcionam como uma barreira natural, atuando no controle do avanço das marés, evitando possíveis catástrofes ambientais.
O alerta traz uma importante reflexão neste sábado, 22 de março, data em que se comemora o Dia da Água. Para Bonafim, o Parque Industrial de Cubatão tem sido um dos grandes responsáveis pela degradação do mangue existente no litoral da nossa região. Presente em cerca de 70 km² de extensão na Baixada Santista, os manguezais são um ecossistema essencial para a subsistência humana.
No entanto, o climatologista reforçou que os fatores industriais não são os únicos a prejudicarem o ecossistema. Ele diz que a degradação também se deve porque parte da área é habitada por palafitas, comprometendo diretamente a qualidade da água. “A população nas palafitas é uma população muito sofrida porque vive nessa região sem saneamento básico e outros benefícios que prejudicam a saúde dos moradores e também o mangue”. A única solução, para Bonafim, é o reforço às fiscalizações de ocupações irregulares em áreas de preservação ambiental por parte das autoridades, além do remanejamento dessas famílias já instaladas naquela área.
“Manter os manguezais vivos é mais importante do que as florestas terrestres”, reforça a professora de sistemas estuarinos do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Tânia Marcia Costa. A presença do ecossistema entre-marés auxilia no controle de ondas do mar, evitando além da invasão da água para dentro da cidade, os fortes ventos e outros eventos extremos, isso por conta das grandes raízes das árvores, que formam uma rede e limitam a intensidade destes eventos.
Além de manter a costa segura de possíveis catástrofes naturais, ela aponta que o mangue tem o papel de “sequestrar” carbono, tornando-se o que é chamado de ‘carbono azul’. “Todo resíduo natural de terra e mar para no manguezal, aglomerando grande quantidade de carbono. Quando esse ecossistema é violado, o carbono armazenado é liberado em uma enorme concentração, prejudicando a camada de ozônio”.
“A população acha que mangue é só lama e caranguejo, enquanto temos diversos crustáceos importantes para manutenção das águas”, acrescentou. As espécies presentes nas águas turvas da região estuarina abrange basicamente todas que vivem no mar ou em rios, isso porque em algum momento de suas vidas, essa região se torna refúgio para que estes animais depositem seus ovos, escondam-se de predadores ou se alimentem.

A doutora em Zoologia, a professora Tânia Marcia Costa, ainda apontou o prejuízo socioeconômico que o manejo irresponsável do mangue acarreta na vida da população. “O desgaste da zona estuarina prejudica a reprodução dos animais, logo, interfere negativamente na pesca e o preço dos pescados sobe”, concluiu.
Educação é a solução
Conforme a co-coordenadora e fundadora do projeto Manguezal Vivo, Thays Emídio, conhecer seu território é essencial para despertar uma consciência sobre a preservação. “É preciso entender que aquele território é parte de quem eu sou, é parte da minha vivência cotidiana, fica na minha cidade e que tem toda a relevância ambiental para o planeta, mas impacta diretamente na minha vida”, reitera ela que defende a importância do ambiente que está no entorno da região.
Bióloga e também co-coordenadora do projeto, Ariane Salermo, revela que mesmo com as atividades chamativas para o ecoturismo que o projeto promove ainda muitas pessoas não veem o mangue como roteiro turístico, por considerarem um ambiente poluído.
O projeto conta com uma grande missão em incluir a educação ambiental na vida das pessoas, alcançando uma visibilidade para esse ambiente que não é totalmente presente no currículo educacional. Com expedições promovidas em áreas do mangue, a iniciativa conta com um programa de imersão no ecossistema, com passeios de canoa havaiana e caiaques, além de aulas e palestras em escolas da rede pública de Cubatão.
Para Thays Emídio, quanto mais áreas poluídas, menos áreas estarão disponíveis para desfrutar de um turismo sustentável com responsabilidade. Ela explica que a educação no projeto integra duas vertentes, sendo elas, a patrimonial e a ambiental. “A gente acredita que o ser humano precisa se identificar e se apropriar do ambiente para que ele possa preservar”, explica ela.
A fundadora do projeto Manguezal Vivo acredita que não existe uma preservação completa se não existir o processo de educação ambiental. E portanto, luta por uma educação transformadora e crítica para que as pessoas entendam a necessidade da preservação desse ambiente, formando pessoas entendam a responsabilidade como agente causador desses impactos ambientais. “A educação ambiental também contribui com um conhecimento para os pescadores profissionais e artesanais, entendendo o porquê não se pode pescar em período de defeso, onde a preservação da espécie é necessária”, afirma a bióloga.
“A gente acredita muito que a educação ambiental precisa ser cada vez mais difundida para que mais pessoas reconheçam o quanto esse ecossistema precisa ser preservado.” finaliza Thays.
Matéria produzida por Beatriz Rodrigues e Luccas Tamberi, alunos da UniSantos sob orientação da professora Lidiane Diniz. Matéria revisada pela redação do Jornal da Orla.